28.3.07

. . . . . . . . . . . . . . . . . . .Sinistrum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .



Essa palavra, vinda do latim, em curso no vernáculo desde 1645 com a grafia senestro, foi engolida pela gíria carioca fazendo-se hoje de uma das palavras mais usadas pra classificar um cotidiano na cidade de São Sebastião.
A mulher, que eu ficara sabendo ontem, que levara uma bala perdida dentro do hospital morreu hoje. José Simão, ótimo jornalista, radialista, (desculpem-me se estou enganada com sua profissão ou se há mais qualificações) paulista, faz piada-drama real ao dizer que: "no Rio tem-se a chance de morrer duas vezes, pois um defunto levou uma bala perdida em seu próprio velório". Sinistro.

Que bom que há o Lado B da história, e ao mesmo tempo recebo um email de um amigo transcrevendo as palavras de Ruy Castro, em plena passagem para um novo outono.

Protestos fúnebres
RIO DE JANEIRO - No último sábado do verão, a praia de
Copacabana amanheceu com 700 cruzes pretas fincadas na areia no trecho defronte ao Copacabana Palace. Era um protesto contra a morte de igual número de pessoas pela violência no Rio nos primeiros meses do ano, segundo dados de uma ONG (organização não-governamental) responsável pelo evento. Naquela manhã, ao abrir as janelas e deparar com as cruzes, que não estavam ali na véspera, os gringos hospedados no Copa devem ter se encantado com a criatividade brasileira. Que idéia para um comercial de TV -fazer da praia um cemitério! Os bandidos foram ver e também gostaram. Era um reconhecimento à sua capacidade de implantar o terror. Já o carioca, talvez pela morbidez da idéia, passou ao largo. O espetáculo só atraiu os ativistas. Em compensação, foi intensamente filmado e fotografado -nada mais plástico que o Rio, não?-, e as imagens correram o mundo, acompanhadas de pouco ou nenhum texto. Nesta segunda-feira, a mesma e funérea ONG promoveu na Cinelândia, no centro da cidade, uma passeata de "luto pelo Rio". O povo foi convocado a usar camisas pretas e portar velas acesas, como num enterro. Apesar do horário -sete da noite, com muita gente nas ruas- e da tradição da Cinelândia como palco de protestos, mais uma vez apenas os ativistas prestigiaram. Pelo visto, o carioca, já campeão mundial de minuto de silêncio, quer salvar o Rio, não enterrá-lo. Performances inspiradas em Zé do Caixão ou no "halloween" são só uma dramaturgia pobre para a indústria do medo -esta, sim, séria- que se tenta impor. Uma indústria ideal para os síndicos que mandam gradear os edifícios, para os blindadores de carros e fabricantes de insulfilme e para ONGs que se candidatam a consciência da população."

(foto Antonio Lacerda/EFE)

2 comentários:

Helena disse...

Humm, boa esse texto do Ruy Castro. "Passeata contra a violência" a gente jah conheceu muitas. No começo, tinha uma galera (lembra daquela primeira do Viva Rio no Centro?). Mas chega, estah na hora de soluções. Onde é que a gente vai parar Luzi? O Rio, essa cidade que amamos tanto? Sabe, essas historias me dão pouca vontade de voltar...

dacosta disse...

Heleninha,

posso fazer idéia da sua pouca vontade de voltar. O que posso lhe dizer? Que a força-tarefa militar está no Rio desde o começo do ano e até agora não vimos nada. Ops, na terça-feira quando fui ao aeroporto pegar o André passando pela linha vermelha, vi um amontoado de militares no acostamento parados, com ônibus, motos, carros do exército. Será que era a força-tarefa? Ou foi uma tarefa de pouca força?
Sei que é um assunto pesado mas precisamos falar do nosso cotidiano. Estamos lhe esperando mesmo assim, em breve! Ao menos pra matar as saudades...