20.7.08

SARDIIINHAS A CENHÊ




Quando morei em Portugal, há 17 anos atrás, ainda era o tempo dos escudos que hoje muitos, muitos dos patrícios mais velhos sentem saudade. Da cidade do Porto tenho a lembrança viva em minha memória das velhas portuguesas vestidas de preto dos pés à cabeça, nos pés botinas tão velhas quanto elas, desgastadas pelo caminhar do mercado do Bolhão por toda a cidade. Carregavam cestos de palha cheio de sardinhas e gritavam ao parar em algum ponto quando seus pés não lhe permitiam mais prosseguir: "Sardiiiinhas a cenhêêêêêêêêê!!!" Eram cem escudos por 12 sardinhas. Hoje se for ao supermercado compra as 12 sardinhas por 1,80 euros. Convertendo a moeda: 100 escudos = 0,50 céntimos de euro. Está entendido as saudades dos escudos ?! Não há mais as senhorinhas pelas ruas ...As sardinhas continuam as mesmas mas o mundo gira e muda.

Hum que delícia, as melhores são as assadas na brasa, claro, portuguesas. Pude nessa viagem a Portugal saciar a vontade delas. Elas fazem parte da cultura desse povo, é tão presente que o símbolo de Lisboa para a temporada de festas do verão a cada ano é ela mesma, a saborosa sardinha. Ano após ano os artistas locais criam sua versão gráfica.

Procurando postais encontrei um super pop com várias latinhas de sardinhas em cores saturadas. Dias depois caminhando pela baixa de Lisboa, explorando as ruazinhas, quem encontro ? As mesmas latinhas do postal, a Tricana. O local chama-se Conserveira de Lisboa, desde 1930. Atrás do balcão fica uma senhora embalando as latas com os papéis super coloridos. Deu vontade de comprar uma de cada cor, que exagero, foi só por um instante. Descobri que tem também atum, carapau, bacalhau, corvina e ovas. Mais diferentes formas de conserva, azeite, óleo, com pimentas, com ervas, verdadeira loucura pra levar pra casa.
Fica o registro : Rua dos Bacalhoeiros , 34 - lisboa - portugal

19.7.08

MULHERES ! VI-VIDAS !




Acabo de chegar do espetáculo de dança solo "Vi-Vidas", de Sônia Mota, 60 anos. Menciono a idade pois esse foi um dos motivos que me chamou atenção na reportagem. Gosto de ver os veteranos dançando porque eles possuem uma maturidade na expressão corporal. São horas, dias, anos a fio moldando o corpo a uma forma quase abstrata de ser. Pelo corpo passa a representação, cada gesto é como uma corda vocal. Em 99 % dos espetáculos de dança que assisti a música é parceira essencial (com a excessão de um grupo japonês que conseguiu dançar 1 hora em silêncio. Claro que eu dormi no meio). Neste não podia ser diferente.

A bailarina-professora vive há 20 anos na Alemanha, onde apresentou essa peça em 2005 e finalmente chegou aqui. Não sei se ela se apresentará em outros estados da federação, o que será uma pena. A peça é um discurso sobre o feminino no mundo patriarcalista.

Começa no mundo islâmico com a mulher escondida sob véus, sob seus medos, sua resignação. A busca pela liberdade liberta-a destes véus. Corre, corre, corre para as várias mulheres que habitam nela. Tem um pouco de mulçumana em você ? Você está de alguma maneira mulçumana ? (amigos, abstenham-se destas perguntas) Essa mulher descobre que o caminho é longo, caminhada só começou e descalça.
A mulher moderna corre pra lugar algum, corre sem amor nenhum, corre de si mesma, não se encontra, vive no paradoxo. A liberdade dela aprisiona-a na matéria, nas dúvidas. Cinza metálico. Consegue ser várias mulheres, mas na verdade não é nenhuma, não está plena. Sai de cena cansada e equipada. É isso que você quer ?
Sexual, vermelho, nua, bebida, charuto e salto alto. Mulher como objeto do prazer. Luz densa. Despe-se. A plasticidade do corpo nú sob meia luz, mistura-se às texturas projetadas no chão. Beleza encanta. As imagens persistem em estampar a mente.
O elemento que as liga é a água. Fonte da vida, da força, da esperança. Mulher mergulha no infinito do seu ser ao despertar para esse elemento. Sentimento, intuição, emoção. Divide-se, une-se, solitude, plenitude.

Aplausos de pé.




17.7.08

JAPON NO LECIFE ?!


Estava eu no aeroporto internacional de Guararapes, Recife, prestes a embarcar com alguns minutos a meu favor. Resolvi tomar um cafezinho e comer uma tapioca, pois ficaria mais de 15 dias sem a iguaria nordestina. Para minha surpresa não estava mais em terras nordestinas e sim nipônicas! Ué !?

Sei que está havendo a comemoração pelo centenário da chegada dos japoneses em terras brasilis, mas por que tanta comemoração aqui em Recife ? O aeroporto parecia uma cidade oriental, pessoas vestidas de quimono, luminárias de bolas vermelhas, pauzinhos por todos os lados. Mas cadê a tapioca, gente ?

Ainda bem que consegui comê-la e não um sushi, que adoro, mas esse tem em todo o lugar do mundo, inclusive em Lisboa para onde estava voando.

Agora entendi: aqui em Pernambuco faz 50 anos que os japas chegaram ao interior, a maioria agricultores e dos bons. Alguns vieram depois pra capital, Recife. Entendi tudo, como aqui há uma tendência a exagerar os fatos, estão comemorando o centenário no Brasil, mesmo que tenham levado 50 anos pra chegar por terras nordestinas. Arigatô !




TCHAIKOVSKY , O QUE ?


Pernambuco é estado de nomes, diria, criativos. Recife então nem se fala. Aqui podemos conhecer Joana D´arqui, Gil Vicente, Dante (quase Alighieri, esse foi salvo pelo tio que achou o nome complicado e resolveu simplificar), Kéops (sim, o faraó está vivinho aqui em Recife).
Mas os pais desse jovem da foto superaram todos. O nome dele é : Tchaikovsky Johannsen Adler Pryce Jackman Faier Ludwin Zolman Hunter Lins !

Meu Deus, pense na criança aprendendo a escrever isso tudo sem errar. Foi a mãe dele que se dedicou a essa missão. Pois o menino foi tão repreendido por uma professora que não quis mais voltar pra escola.

A novela Tchai começou na hora de registrar o filho, com o pai querendo colocar 19 nomes no nome do garotão. Precisou o juíz determinar que poderia escolher 9 nomes. Toda essa inspiração veio de Lps de música clássica que os pais possuem em casa até hoje.

Quem tem dúvida que esse rapaz estudaria música ?! Olhem bem pro rosto dele, não parece um futuro maestro russo-pernambucano ? Foi buscar na genética ancestral de seu bisavó que era maestro de bandas e fanfarras no interior do Agreste.

Realmente Recife é a cidade com os nomes mais criativos do mundo !


MÃOS AO ALTO !


A caatinga pede pra parar !! Esse é o único bioma exclusivamente brasileiro, quer dizer que o que temos ali não podemos encontrar em mais nenhum canto do planeta!
Do tupi-guarani vem caa (mata) + tinga (branca). A caatinga teve durante muitos anos sua imagem associada a uma biodiversidade pobre. O que é falso pois seu solo é muito rico, e sua vegetação conta com mais de 2000 espécies. Pense na variedade de mel que as abelhas poderiam gerar ? Ainda hoje esse ecossistema é uma novidade, está sendo estudado e encontrado espécies novas. A caatinga está presente em vários estados do nordeste, inclusive o norte de minas, parte de Minas Gerais que está mais pro nordeste do que sudeste.

Esse habitat exclusivamente brasileiro está sendo ameaçado pelo mais temível dos seres: o homem. Principalmente no querido estado de Pernambuco.
Aqui a exploração do pólo gesseiro na caatinga é parte da preocupação do ministério do meio ambiente. Criaram o Programa Mata Nativa pra diminuir os desmatamentos na região do Araripe. Boa notícia: bons resultados. Ótimo, mas o trabalho não pode parar porque se piscar o olho (digo 1 olho mesmo!), os industriais vão desrespeitar às leis. Mais uma vez percebemos que a cultura verde precisa de engajamento e persistência.

Na região do Araripe funcionam 26 mineradoras, 97 calcinadoras e 234 fábricas de pré-moldados. Atenção ao senhor progresso! Precisa-se dar limites a este senhor idoso.

Aproveitando o ensejo sobre Pernambuco, a língua feroz do ministro disse que o estado é "desastre do desastre" (sic, minha nossa!) e não poupou os usineiros chamando-os de "foras-da-lei". Por não respeitarem às margens dos rios, plantando até os mananciais. E mais, que estariam desmatando com apoio político e impunidade. Tome. Bem, isso gerou um desconforto para o governador Eduardo Campos, e com o senador Jarbas (PMDB-PE). Nada que uma carta de desculpas não amenize os ânimos, pois afinal de contas os usineiros estão comprometidos a reflorestar áreas que foram por eles mesmos históricamente desmatadas. Veremos.

Em tempo :
R$ 120 milhões (42 milhões de euros) foi o valor da multa aplicada em 24 usinas do setor sucroalcooleiro , aqui em Pernambuco.