19.7.08

MULHERES ! VI-VIDAS !




Acabo de chegar do espetáculo de dança solo "Vi-Vidas", de Sônia Mota, 60 anos. Menciono a idade pois esse foi um dos motivos que me chamou atenção na reportagem. Gosto de ver os veteranos dançando porque eles possuem uma maturidade na expressão corporal. São horas, dias, anos a fio moldando o corpo a uma forma quase abstrata de ser. Pelo corpo passa a representação, cada gesto é como uma corda vocal. Em 99 % dos espetáculos de dança que assisti a música é parceira essencial (com a excessão de um grupo japonês que conseguiu dançar 1 hora em silêncio. Claro que eu dormi no meio). Neste não podia ser diferente.

A bailarina-professora vive há 20 anos na Alemanha, onde apresentou essa peça em 2005 e finalmente chegou aqui. Não sei se ela se apresentará em outros estados da federação, o que será uma pena. A peça é um discurso sobre o feminino no mundo patriarcalista.

Começa no mundo islâmico com a mulher escondida sob véus, sob seus medos, sua resignação. A busca pela liberdade liberta-a destes véus. Corre, corre, corre para as várias mulheres que habitam nela. Tem um pouco de mulçumana em você ? Você está de alguma maneira mulçumana ? (amigos, abstenham-se destas perguntas) Essa mulher descobre que o caminho é longo, caminhada só começou e descalça.
A mulher moderna corre pra lugar algum, corre sem amor nenhum, corre de si mesma, não se encontra, vive no paradoxo. A liberdade dela aprisiona-a na matéria, nas dúvidas. Cinza metálico. Consegue ser várias mulheres, mas na verdade não é nenhuma, não está plena. Sai de cena cansada e equipada. É isso que você quer ?
Sexual, vermelho, nua, bebida, charuto e salto alto. Mulher como objeto do prazer. Luz densa. Despe-se. A plasticidade do corpo nú sob meia luz, mistura-se às texturas projetadas no chão. Beleza encanta. As imagens persistem em estampar a mente.
O elemento que as liga é a água. Fonte da vida, da força, da esperança. Mulher mergulha no infinito do seu ser ao despertar para esse elemento. Sentimento, intuição, emoção. Divide-se, une-se, solitude, plenitude.

Aplausos de pé.




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