27.2.11

PEIXES-BOIS



Até eu vir morar no Nordeste, em Pernambuco, meu contato com o peixe-boi era restrito ao uso das sandálias havainas, da série animais em extinção. Quando soube do projeto em Itamaracá para a procriação do dócil peixe herbívoro fui conhecer e ver pela primeira vez o animal ao vivo. Sou contra zoológicos, por questões óbivias de vida em cativeiro super limitadoras, de espaço e diversidade. Porém, os projetos de preservação para tentar salvar uma espécie são louváveis.
O coração bateu mais forte ao ver um peixe-boi bebê pertinho de sua mãe. Quilos e quilos de alface são consumidos por eles. O lugar, em Itamaracá, é bem estruturado, tem sala de video, área verde, bem aprazível para as crianças.
No ano seguinte, em 2009, tive a oportunidade de conhecer uma praia no litoral norte de Alagoas, chamada Pataxo, belíssimo lugar. Bem próximo dali, há outro projeto para preservação do peixe-boi. Fomos lá visitar navegando pelo manguezal num bote movido aos fortes braços. Não é permitido usar motores. Naquele trecho do rio, permitem que os peixes-bois saiam dos cativeiros e comecem a viver novamente no seu habitat natural. Aliás, trazem também os criados em Pernambuco para viverem nesta região. Eles vivem em liberdade monitorados pelos pesquisadores. Neste passeio para conhecer o projeto aconteceu uma emoção mais forte. Um peixe-boi nos acompanhou e veio falar conosco no barco. Eu não me contive e alisei o animal. Só então nos disseram que não poderíamos pegar no peixe. Tudo bem, foi instintivo da minha parte.
Hoje, abro o jornal, leio a boa notícia que depois de 17 anos de trabalho para a preservação da espécie conseguiram aumentar em 65% o número dos animais. Foi um bom resultado pois como é um mamífero a procriação é lenta. Antigamente o encontravamos do estado do Espírito Santo ao Amapá. Hoje, somente há registro de Alagoas pra cima. Ainda se tem muito trabalho a continuar e apoiar.



imagem: arquivo pessoal

26.2.11

MATRIZ ENERGÉTICA, LIMPA NEM TANTO



Muito elogia-se o Brasil pelo mundo afora quando o assunto é energia limpa e renovável. A matriz energética brasileira utiliza 45% de energia renovável, 15% hídrica e o restante de biomassa. A forte dependência em biomassa mostra como somos ligados à forma simples e antiga para gerar energia, queimando lenha e o que encontrasse pela frente. Enquanto os países desenvolvidos possuem aproximadamente 14% de energia renovável. É bom dizer que o uso do petróleo e derivados é praticamente o mesmo lá e cá, em torno de 37%.
Entretanto se colocarmos uma lupa nesta matriz o quesito energia limpa fica a desejar. Grande parte da biomassa energética é produzida comercialmente: a lenha, que transformada em carvão vegetal é usada na siderurgia e a cana de açúcar usada na produção de açúcar, álcool combustível e energia elétrica. Estes dois elementos lenha e cana de açúcar já são suficientes para uma análise crítica ambiental.
O primeiro porque estimula o desmatamento, libera CO2, precisa ser extremamente controlado. A cana é retirada com queimadas liberando não só o monóxido de carbono, mas também elementos tóxicos vindos dos agrotóxicos e fertilizantes. Se olharmos mais a fundo nas plantações de cana veremos que não são respeitados vários pontos do Código Florestal, tornando-se danoso ao meio ambiente. Ao observar os trabalhadores envolvidos na extração destas matérias primas estão subjugados à forma de relação oprimida, poucas possibilidades de ter uma boa saúde, pouca educação, pouca segurança.
Portanto, será tão limpa assim?
Se pensarmos na fonte hídrica não ficaremos tão distante. Recentemente, saiu um estudo na UFBA mostrando que os reservatórios das usinas também liberam gases nocivos pois há decomposição orgânica no fundo. Geralmente é necessário inundar enormes áreas comprometendo a biodiversidade local, a dinâmica do ecossistema, sua metabolização e eliminação da fauna e flora. Também não me parece tão limpo assim.
O que nos resta? Investir em novas tecnologias: eólica e solar.






Imagem: ABIODisel

BELO MONTE OU BELO DESMONTE


Há quatro anos atrás ouvi de uma conhecida, que trabalhava na WWF, na época, coordenando áreas da Amazônia, sobre o grande impacto socioambiental da futura Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A discordância dela com o posicionamento da Ong sobre Belo Monte levou ao seu desligamento do cargo assumido. Este fato ficou registrado no meu HD interno permanentemente. Depois quando lia algo referente ao caso na mídia, remetia-me à corajosa pessoa que foi fiel aos seus princípios, e porque não dizer ideais, socioambientais.
Ainda escrevo a palavra socioambiental somente para deixar claro ao leitor que meio ambiente não está separado das pessoas. As pessoas fazem parte do ambiente, da natureza, aliás, nós somos natureza!
4 anos depois, com quedas de presidentes do IBAMA, provavelmente por causa desta mesma Belo Monte, as lembranças voltam à mente. Hoje no site da BBC Brasil lemos: Justiça suspende canteiro de obras para Belo Monte. vide: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110223_belomonte_liminar_jf.shtml
O argumento do Ministério Público é que as condicionantes prioritárias não foram cumpridas, referentes ao saneamento, saúde, educação e segurança pública. O procurador da República Ubiratan Cazeta disse: "Com a população de hoje, a infraestrutura já não aguenta a demanda por hospitais, educação etc. Se derem início às obras sem implementação dos serviços, condenarão a cidade ao caos e, em vez de preparatórias, as políticas terão de ser reparatórias."
Este é um vetor importante a ser pensado e planejado para não gerar um caos social. Outro ponto de igual importância é a questão indígena e ribeirinha, os atores de menor força no cenário, e os que mais sofrerão a injustiça ambiental.