17.6.12

Um pouco de Marina

Temos uma escolha a fazer, uma escolha realmente simples, entre ver e perceber. Podemos fingir que não percebemos a degradação das condições de vida que estamos deixando para nossos descendentes, podemos nos iludir com a possibilidade da tecnologia “dar um jeitinho” nos desastres ambientais cada vez maiores e mais frequentes, podemos permitir que a ganância por dinheiro e poder seja o valor e a medida dominante em nossa vida. Ou podemos encarar a realidade, assumir as nossas responsabilidades com as futuras gerações, escolher o equilíbrio e a sobriedade. Essa escolha é de cada um. Obviamente, não se pode cobrar dos bilhões de seres humanos que vivem na miséria, sofrendo com a falta de comida e abrigo, a mesma responsabilidade que têm, ou pelo menos deveriam ter, os que fizeram do excesso a medida da própria felicidade. No mês em que se realiza a Rio+20, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, divulga seu relatório GEO 5 e deixa preocupados todos os que o leem. Em primeiro lugar, com o estado do planeta Terra, sem melhora significativa em quase todos os problemas que foram debatidos na Conferência de 1992 e sobre os quais se fizeram vários acordos internacionais. Mas o que entristece é a causa da permanência e agravamento dos problemas: a inércia (para usar uma expressão conhecida, no limite da irresponsabilidade) dos governantes que comparecerão ou faltarão ao encontro no Rio. Se a coisa não andou, é porque os governos não fizeram o que deviam e não cumpriram o que acertaram, mesmo sabendo o que dá resultado. Impressiona a força do problema: as mudanças no “sistema Terra” e suas graves consequências para a saúde e a segurança de todas as comunidades humanas. Impressiona mais ainda a fraqueza da resposta: o Zero Draft, rascunho do documento que os líderes internacionais assinarão no Rio, parece ser uma fuga à realidade descrita no relatório do Pnuma. O mundo grita, os governantes fingem não escutar. Justiça seja feita, entretanto: a maioria deles está sob a intensa pressão da crise financeira, da campanha eleitoral, dos radicais antiambientalistas, do modelo econômico insustentável de seus países, da histeria consumista que disfarça o mal-estar, do crescimento que dá a ilusão de desenvolvimento. Não conseguem sair da teia de interesses, nem sempre legítimos, em que se transformou a política. Aceitam o empobrecimento da democracia. Seus programas resumem-se em administrar as circunstâncias, jamais em antecipar-se a elas. Gorbachev, que participou da Eco 92, resumiu em artigo recente a situação política: falta liderança e visão. Todos afirmam que não teremos tempo para uma Rio+40. Mais uma vez o relatório do Pnuma alerta para os limites críticos que estão sendo ultrapassados, às vezes de forma irreversível. Em algumas regiões, a oscilação rápida de temperatura, a perda acelerada de biodiversidade, a ocorrência de catástrofes e eventos extremos podem condenar grandes parcelas da humanidade ao sofrimento e provocar danos que a natureza levaria muito tempo para recuperar. O relatório acrescenta, além de crítica realista ao pouco que se fez, uma evidência sobre a falta de um organismo internacional capaz de monitorar os acordos e com poder para exigir seu cumprimento. Os países dão tanta importância ao comércio a ponto de ter uma organização mundial que o disciplina. Agora terão que dar a mesma importância ao meio ambiente, ao clima, à biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável, que possa promover o bem-estar da atual e das futuras gerações. Haverá avanços na Rio+20? Penso que a resposta está com a sociedade civil, os povos, as comunidades, as empresas, as organizações sociais, todos os que se dispõem a transformar sua consciência em ação, assumindo responsabilidades locais e aumentando a capacidade de influenciar na governança global. Será ocasião de reunir-se, conversar, formalizar acordos e parcerias, fortalecer-se. Para os governantes do mundo aqui reunidos, será uma grande oportunidade – talvez uma das últimas – de atender às exigências de seus povos, para que definam metas e as cumpram, colocando-se diante da escolha ética que têm negligenciado. O relatório do Pnuma é, antes de tudo, uma contundente denúncia. Ao mesmo tempo em que atesta mais uma vez a degradação das condições do planeta, revela a incoerência dos representantes dos governos. A portas fechadas, ignorando solenemente a realidade dramática que o próprio relatório revela, costuram um acordo baseados nas conveniências políticas dos seus mandatários.

27.2.11

PEIXES-BOIS



Até eu vir morar no Nordeste, em Pernambuco, meu contato com o peixe-boi era restrito ao uso das sandálias havainas, da série animais em extinção. Quando soube do projeto em Itamaracá para a procriação do dócil peixe herbívoro fui conhecer e ver pela primeira vez o animal ao vivo. Sou contra zoológicos, por questões óbivias de vida em cativeiro super limitadoras, de espaço e diversidade. Porém, os projetos de preservação para tentar salvar uma espécie são louváveis.
O coração bateu mais forte ao ver um peixe-boi bebê pertinho de sua mãe. Quilos e quilos de alface são consumidos por eles. O lugar, em Itamaracá, é bem estruturado, tem sala de video, área verde, bem aprazível para as crianças.
No ano seguinte, em 2009, tive a oportunidade de conhecer uma praia no litoral norte de Alagoas, chamada Pataxo, belíssimo lugar. Bem próximo dali, há outro projeto para preservação do peixe-boi. Fomos lá visitar navegando pelo manguezal num bote movido aos fortes braços. Não é permitido usar motores. Naquele trecho do rio, permitem que os peixes-bois saiam dos cativeiros e comecem a viver novamente no seu habitat natural. Aliás, trazem também os criados em Pernambuco para viverem nesta região. Eles vivem em liberdade monitorados pelos pesquisadores. Neste passeio para conhecer o projeto aconteceu uma emoção mais forte. Um peixe-boi nos acompanhou e veio falar conosco no barco. Eu não me contive e alisei o animal. Só então nos disseram que não poderíamos pegar no peixe. Tudo bem, foi instintivo da minha parte.
Hoje, abro o jornal, leio a boa notícia que depois de 17 anos de trabalho para a preservação da espécie conseguiram aumentar em 65% o número dos animais. Foi um bom resultado pois como é um mamífero a procriação é lenta. Antigamente o encontravamos do estado do Espírito Santo ao Amapá. Hoje, somente há registro de Alagoas pra cima. Ainda se tem muito trabalho a continuar e apoiar.



imagem: arquivo pessoal

26.2.11

MATRIZ ENERGÉTICA, LIMPA NEM TANTO



Muito elogia-se o Brasil pelo mundo afora quando o assunto é energia limpa e renovável. A matriz energética brasileira utiliza 45% de energia renovável, 15% hídrica e o restante de biomassa. A forte dependência em biomassa mostra como somos ligados à forma simples e antiga para gerar energia, queimando lenha e o que encontrasse pela frente. Enquanto os países desenvolvidos possuem aproximadamente 14% de energia renovável. É bom dizer que o uso do petróleo e derivados é praticamente o mesmo lá e cá, em torno de 37%.
Entretanto se colocarmos uma lupa nesta matriz o quesito energia limpa fica a desejar. Grande parte da biomassa energética é produzida comercialmente: a lenha, que transformada em carvão vegetal é usada na siderurgia e a cana de açúcar usada na produção de açúcar, álcool combustível e energia elétrica. Estes dois elementos lenha e cana de açúcar já são suficientes para uma análise crítica ambiental.
O primeiro porque estimula o desmatamento, libera CO2, precisa ser extremamente controlado. A cana é retirada com queimadas liberando não só o monóxido de carbono, mas também elementos tóxicos vindos dos agrotóxicos e fertilizantes. Se olharmos mais a fundo nas plantações de cana veremos que não são respeitados vários pontos do Código Florestal, tornando-se danoso ao meio ambiente. Ao observar os trabalhadores envolvidos na extração destas matérias primas estão subjugados à forma de relação oprimida, poucas possibilidades de ter uma boa saúde, pouca educação, pouca segurança.
Portanto, será tão limpa assim?
Se pensarmos na fonte hídrica não ficaremos tão distante. Recentemente, saiu um estudo na UFBA mostrando que os reservatórios das usinas também liberam gases nocivos pois há decomposição orgânica no fundo. Geralmente é necessário inundar enormes áreas comprometendo a biodiversidade local, a dinâmica do ecossistema, sua metabolização e eliminação da fauna e flora. Também não me parece tão limpo assim.
O que nos resta? Investir em novas tecnologias: eólica e solar.






Imagem: ABIODisel

BELO MONTE OU BELO DESMONTE


Há quatro anos atrás ouvi de uma conhecida, que trabalhava na WWF, na época, coordenando áreas da Amazônia, sobre o grande impacto socioambiental da futura Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A discordância dela com o posicionamento da Ong sobre Belo Monte levou ao seu desligamento do cargo assumido. Este fato ficou registrado no meu HD interno permanentemente. Depois quando lia algo referente ao caso na mídia, remetia-me à corajosa pessoa que foi fiel aos seus princípios, e porque não dizer ideais, socioambientais.
Ainda escrevo a palavra socioambiental somente para deixar claro ao leitor que meio ambiente não está separado das pessoas. As pessoas fazem parte do ambiente, da natureza, aliás, nós somos natureza!
4 anos depois, com quedas de presidentes do IBAMA, provavelmente por causa desta mesma Belo Monte, as lembranças voltam à mente. Hoje no site da BBC Brasil lemos: Justiça suspende canteiro de obras para Belo Monte. vide: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/02/110223_belomonte_liminar_jf.shtml
O argumento do Ministério Público é que as condicionantes prioritárias não foram cumpridas, referentes ao saneamento, saúde, educação e segurança pública. O procurador da República Ubiratan Cazeta disse: "Com a população de hoje, a infraestrutura já não aguenta a demanda por hospitais, educação etc. Se derem início às obras sem implementação dos serviços, condenarão a cidade ao caos e, em vez de preparatórias, as políticas terão de ser reparatórias."
Este é um vetor importante a ser pensado e planejado para não gerar um caos social. Outro ponto de igual importância é a questão indígena e ribeirinha, os atores de menor força no cenário, e os que mais sofrerão a injustiça ambiental.

27.1.10

AVATAR



Não se deixe levar pelo preconceito deste ser mais um filme de mega produção norte-americana, exaltação do nacionalismo 'americanóide', onde querem acabar com o mundo, guerras, intrigas...
Realmente há guerras, intrigas, porém o mais intrigante é que os filhos do Tio Sam não são os bonzinhos. Dessa vez, não são os alienígenas que querem destruir a Terra, o espectador torce por eles pois são o alvo da ganância extrema pelos minerais.
A relação dos navis, assim chamado o povo que vive no outro planeta, com a Natureza faz lembrar os aborígenes na Austrália, ou os nativos americanos há 500 anos atrás.
Sem querer ser piegas, dá uma vontade de viver naquela floresta fluorescente, andar como eles, se conectar com os animais com a cauda. Seres tão avançados faltou somente o poder da telepatia, mas deixa isso pra outro planeta.
O importante é observarmos o que está acontecendo aqui com o belo planeta azul Terra.
Estamos devorando seus minerais em troca de mais aparelhos eletrônicos, carros, eletrodomésticos. Faz-se imperativo repensar sobre esse modo de vida que levamos.
Ainda não conhecemos nenhum outro planeta para onde possamos mudar ao embarcar numa potente nave espacial.
Por enquanto há de se cuidar daqui mesmo.





fonte: radamais.com.br

17.4.09

ÁREAS COSTEIRAS


Depois de um espaço de tempo sem escrever (percebo que acompanho o movimento de ondas eletromagnéticas) chama-me mais uma vez a atenção a notícia sobre a elevação do nível do mar por causa do aquecimento climático. Se o responsável pelo aquecimento no clima é o Homem ou não, não vem a discussão ao caso, há pesquisadores com opiniões distintas. Uma realidade são os efeitos já observados, como o derretimento das geleiras na Groenlândia - foto acima.
O resultado disso será a elevação do nível do mar, atingindo principalmente as cidades costeiras de todo o globo. Sem falar nas ilhas-nações, como Tuvalu na Oceania, que já estão sofrendo o impacto com a intrusão da água salgada em seus solos, contaminando sua água potável e prejudicando a produção de alimentos. A erosão costeira está corroendo as nove ilhas que compõem Tuvalu. Essa ilha possui uma população de 11.000 habitantes, provavelmente será necessário haver um
deslocamento delas, para onde?
Serão os 'desabrigados ambientais'.




foto: globo.com



27.9.08

SÃO COSME E SÃO DAMIÃO




Demorei mas encontrei essas imagens que registrei em 2006, no morro do Catumbi - Rio de Janeiro. Todo o ano é assim, uma multidão infantil aglomera-se numa velocidade mais rápida que a da luz. Só chegar em qualquer comunidade do Rio, de Recife que vem até adulto pegar os doces dos êres. Ano passado fui com Nina e Marcelo na comunidade do Alto-Zé-do-Pinho, infelizmente não registrei, mas a algazarra é a mesma. Quase você não consegue sair do carro, gritaria, gente correndo vindo de todos os cantos, olhos arregalados-não-acredito (veja o moleque acima de boné azul), alegria, sorrisos, decepção dos retardatários.
A vóvozinha acima, também do Catumbi, ganhou merecidamente o seu pacotinho pois seu nome é Damiana! Caí pra trás ...
Ontem minha sobrinha postiça, Maria Clara, ao ver os doces que seriam empacotados e distribuídos para as crianças perguntou-me sem saber como formular a questão se macumba era coisa de gente má, com cara ruim, estranha. Antes de respondê-la ela me disse que não acreditava no que falavam, pois quem dá alguma coisa não pode ser má.
O preconceito na cabeça de muita gente existe por não conhecer, ou não querer conhecer, o diferente.
Os santos gêmeos nasceram na Ásia Menor, no século IV, médicos, converteram-se ao cristianismo, cuidavam dos doentes por caridade obtendo curas espantosas. Vem daí que são os protetores dos médicos. E das crianças ?
No candomblé, Iansã e Xangô tiveram dois filhos gêmeos, orixá Ibeji, também chamados de Erês, protetores do parto duplo, das crianças. Na umbanda o sincretismo fez unir esses orixás com o seu irmão cristão mais próximo, Cosme e Damião. Hoje, certamente, está acontecendo uma das giras mais bonitas da umbanda, destinada às entidades das crianças. Quando se quer agradar uma criança o que damos ? Doces.
Enquanto isso em Salvador, hoje, é dia de caruru. Caruru é o nome do prato feito com quiabo que vai no delicioso acarajé (ai que deu água na boca), que é a comida de Xangô, mas também é o nome do banquete que se oferece aos vários orixás, no dia 27 de setembro, com um prato específico pra cada orixá.
Esse ano minha oferenda destinou-se às crianças deficientes de um orfanato e às crianças internadas no hospital do Imip.
Viva o Brasil da liberdade religiosa, viva a umbanda, viva cosme e damião!




ECOLOGIA PROFUNDA - A CURA PLANETÁRIA


Volta e meia isso acontece: o blog torna-se tão virtual mas tão virtual, que fica nos bytes da minha mente. Já percebi quando se dá o fenômeno, é quando tem tantas informações que o HD cerebral entra num estágio de processamento alterado. E não é porque eu queira, pois tenho um da última geração, pra lá do pentium 4. Vai entender ...
Claro, que preciso contar mil e uma noites do que vi, conheci, decidi nesses 2 longíquos meses. Vamos lá ?
Primeiramente, começarei pelas decisões: entrar num mestrado! Ora pois, pois, a fruta amadureceu e agora tem que ser descascada. O mestrado é em Desenvolvimento e Meio ambiente. Vou tentar unir duas paixões: o meio ambiente e a imagem. Como a imagem pode ser uma ferramenta para as ações em responsabilidade socioambiental ou usada como manipulação da sociedade.
Depois converso mais sobre o tema. Gostaria de deixar um pequeno texto reflexivo ...

"Somos filhos e filhas da terra.

Dependemos dela para nossa felicidade,

e ela depende de nós."

Thich Nhat Hanh, mestre budista

20.7.08

SARDIIINHAS A CENHÊ




Quando morei em Portugal, há 17 anos atrás, ainda era o tempo dos escudos que hoje muitos, muitos dos patrícios mais velhos sentem saudade. Da cidade do Porto tenho a lembrança viva em minha memória das velhas portuguesas vestidas de preto dos pés à cabeça, nos pés botinas tão velhas quanto elas, desgastadas pelo caminhar do mercado do Bolhão por toda a cidade. Carregavam cestos de palha cheio de sardinhas e gritavam ao parar em algum ponto quando seus pés não lhe permitiam mais prosseguir: "Sardiiiinhas a cenhêêêêêêêêê!!!" Eram cem escudos por 12 sardinhas. Hoje se for ao supermercado compra as 12 sardinhas por 1,80 euros. Convertendo a moeda: 100 escudos = 0,50 céntimos de euro. Está entendido as saudades dos escudos ?! Não há mais as senhorinhas pelas ruas ...As sardinhas continuam as mesmas mas o mundo gira e muda.

Hum que delícia, as melhores são as assadas na brasa, claro, portuguesas. Pude nessa viagem a Portugal saciar a vontade delas. Elas fazem parte da cultura desse povo, é tão presente que o símbolo de Lisboa para a temporada de festas do verão a cada ano é ela mesma, a saborosa sardinha. Ano após ano os artistas locais criam sua versão gráfica.

Procurando postais encontrei um super pop com várias latinhas de sardinhas em cores saturadas. Dias depois caminhando pela baixa de Lisboa, explorando as ruazinhas, quem encontro ? As mesmas latinhas do postal, a Tricana. O local chama-se Conserveira de Lisboa, desde 1930. Atrás do balcão fica uma senhora embalando as latas com os papéis super coloridos. Deu vontade de comprar uma de cada cor, que exagero, foi só por um instante. Descobri que tem também atum, carapau, bacalhau, corvina e ovas. Mais diferentes formas de conserva, azeite, óleo, com pimentas, com ervas, verdadeira loucura pra levar pra casa.
Fica o registro : Rua dos Bacalhoeiros , 34 - lisboa - portugal

19.7.08

MULHERES ! VI-VIDAS !




Acabo de chegar do espetáculo de dança solo "Vi-Vidas", de Sônia Mota, 60 anos. Menciono a idade pois esse foi um dos motivos que me chamou atenção na reportagem. Gosto de ver os veteranos dançando porque eles possuem uma maturidade na expressão corporal. São horas, dias, anos a fio moldando o corpo a uma forma quase abstrata de ser. Pelo corpo passa a representação, cada gesto é como uma corda vocal. Em 99 % dos espetáculos de dança que assisti a música é parceira essencial (com a excessão de um grupo japonês que conseguiu dançar 1 hora em silêncio. Claro que eu dormi no meio). Neste não podia ser diferente.

A bailarina-professora vive há 20 anos na Alemanha, onde apresentou essa peça em 2005 e finalmente chegou aqui. Não sei se ela se apresentará em outros estados da federação, o que será uma pena. A peça é um discurso sobre o feminino no mundo patriarcalista.

Começa no mundo islâmico com a mulher escondida sob véus, sob seus medos, sua resignação. A busca pela liberdade liberta-a destes véus. Corre, corre, corre para as várias mulheres que habitam nela. Tem um pouco de mulçumana em você ? Você está de alguma maneira mulçumana ? (amigos, abstenham-se destas perguntas) Essa mulher descobre que o caminho é longo, caminhada só começou e descalça.
A mulher moderna corre pra lugar algum, corre sem amor nenhum, corre de si mesma, não se encontra, vive no paradoxo. A liberdade dela aprisiona-a na matéria, nas dúvidas. Cinza metálico. Consegue ser várias mulheres, mas na verdade não é nenhuma, não está plena. Sai de cena cansada e equipada. É isso que você quer ?
Sexual, vermelho, nua, bebida, charuto e salto alto. Mulher como objeto do prazer. Luz densa. Despe-se. A plasticidade do corpo nú sob meia luz, mistura-se às texturas projetadas no chão. Beleza encanta. As imagens persistem em estampar a mente.
O elemento que as liga é a água. Fonte da vida, da força, da esperança. Mulher mergulha no infinito do seu ser ao despertar para esse elemento. Sentimento, intuição, emoção. Divide-se, une-se, solitude, plenitude.

Aplausos de pé.




17.7.08

JAPON NO LECIFE ?!


Estava eu no aeroporto internacional de Guararapes, Recife, prestes a embarcar com alguns minutos a meu favor. Resolvi tomar um cafezinho e comer uma tapioca, pois ficaria mais de 15 dias sem a iguaria nordestina. Para minha surpresa não estava mais em terras nordestinas e sim nipônicas! Ué !?

Sei que está havendo a comemoração pelo centenário da chegada dos japoneses em terras brasilis, mas por que tanta comemoração aqui em Recife ? O aeroporto parecia uma cidade oriental, pessoas vestidas de quimono, luminárias de bolas vermelhas, pauzinhos por todos os lados. Mas cadê a tapioca, gente ?

Ainda bem que consegui comê-la e não um sushi, que adoro, mas esse tem em todo o lugar do mundo, inclusive em Lisboa para onde estava voando.

Agora entendi: aqui em Pernambuco faz 50 anos que os japas chegaram ao interior, a maioria agricultores e dos bons. Alguns vieram depois pra capital, Recife. Entendi tudo, como aqui há uma tendência a exagerar os fatos, estão comemorando o centenário no Brasil, mesmo que tenham levado 50 anos pra chegar por terras nordestinas. Arigatô !




TCHAIKOVSKY , O QUE ?


Pernambuco é estado de nomes, diria, criativos. Recife então nem se fala. Aqui podemos conhecer Joana D´arqui, Gil Vicente, Dante (quase Alighieri, esse foi salvo pelo tio que achou o nome complicado e resolveu simplificar), Kéops (sim, o faraó está vivinho aqui em Recife).
Mas os pais desse jovem da foto superaram todos. O nome dele é : Tchaikovsky Johannsen Adler Pryce Jackman Faier Ludwin Zolman Hunter Lins !

Meu Deus, pense na criança aprendendo a escrever isso tudo sem errar. Foi a mãe dele que se dedicou a essa missão. Pois o menino foi tão repreendido por uma professora que não quis mais voltar pra escola.

A novela Tchai começou na hora de registrar o filho, com o pai querendo colocar 19 nomes no nome do garotão. Precisou o juíz determinar que poderia escolher 9 nomes. Toda essa inspiração veio de Lps de música clássica que os pais possuem em casa até hoje.

Quem tem dúvida que esse rapaz estudaria música ?! Olhem bem pro rosto dele, não parece um futuro maestro russo-pernambucano ? Foi buscar na genética ancestral de seu bisavó que era maestro de bandas e fanfarras no interior do Agreste.

Realmente Recife é a cidade com os nomes mais criativos do mundo !


MÃOS AO ALTO !


A caatinga pede pra parar !! Esse é o único bioma exclusivamente brasileiro, quer dizer que o que temos ali não podemos encontrar em mais nenhum canto do planeta!
Do tupi-guarani vem caa (mata) + tinga (branca). A caatinga teve durante muitos anos sua imagem associada a uma biodiversidade pobre. O que é falso pois seu solo é muito rico, e sua vegetação conta com mais de 2000 espécies. Pense na variedade de mel que as abelhas poderiam gerar ? Ainda hoje esse ecossistema é uma novidade, está sendo estudado e encontrado espécies novas. A caatinga está presente em vários estados do nordeste, inclusive o norte de minas, parte de Minas Gerais que está mais pro nordeste do que sudeste.

Esse habitat exclusivamente brasileiro está sendo ameaçado pelo mais temível dos seres: o homem. Principalmente no querido estado de Pernambuco.
Aqui a exploração do pólo gesseiro na caatinga é parte da preocupação do ministério do meio ambiente. Criaram o Programa Mata Nativa pra diminuir os desmatamentos na região do Araripe. Boa notícia: bons resultados. Ótimo, mas o trabalho não pode parar porque se piscar o olho (digo 1 olho mesmo!), os industriais vão desrespeitar às leis. Mais uma vez percebemos que a cultura verde precisa de engajamento e persistência.

Na região do Araripe funcionam 26 mineradoras, 97 calcinadoras e 234 fábricas de pré-moldados. Atenção ao senhor progresso! Precisa-se dar limites a este senhor idoso.

Aproveitando o ensejo sobre Pernambuco, a língua feroz do ministro disse que o estado é "desastre do desastre" (sic, minha nossa!) e não poupou os usineiros chamando-os de "foras-da-lei". Por não respeitarem às margens dos rios, plantando até os mananciais. E mais, que estariam desmatando com apoio político e impunidade. Tome. Bem, isso gerou um desconforto para o governador Eduardo Campos, e com o senador Jarbas (PMDB-PE). Nada que uma carta de desculpas não amenize os ânimos, pois afinal de contas os usineiros estão comprometidos a reflorestar áreas que foram por eles mesmos históricamente desmatadas. Veremos.

Em tempo :
R$ 120 milhões (42 milhões de euros) foi o valor da multa aplicada em 24 usinas do setor sucroalcooleiro , aqui em Pernambuco.







21.5.08

LUA CHEIA DE BUDA



É do alto das montanhas do Himalaia que todos os anos na lua cheia de maio comemora-se a Iluminação de Buda. Ontem, dia 20 de maio, foi realizada mais uma festa ao redor do mundo todo. Dizem os mais entendidos que as forças cósmicas descem na terra para fortalecer-nos. Para mim é um dia que sintonizo com o Todo.
Essas energias vem para nos abençoar e não nos deixar desamparados. Devemos transmiti-las àqueles que não as conhece, que estão na ignorância. Devemos a cada dia, a cada lua levar ao mundo a consciência cristalina. Sejamos instrumentos dessa força, desse Todo.

OM MANI PADME HUM
(om ma ni pedmi rrum)



2.5.08

PETROBRAS E RESPONSABILIDADE



Tenho estudado sobre Responsabilidade Socioambiental, assunto que gera polêmica muitas das vezes por ser tão novo. A mais recente foi a intervenção do Conar (conselho nacional de auto-regulamentação publicitária) na publicidade da Petrobrás. As campanhas eram "Petrobras - sonhar pode valer muito" e "Petrobras - estar no meio ambiente sem ser notada".

A ação movida por entidades governamentais e não-governamentais alegam que a empresa
afirma recorrentemente em suas campanhas e anúncios publicitários seu compromisso com a qualidade ambiental, com o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social. Entretanto, essa postura que é transmitida por meio da publicidade não condiz com os esforços para uma atuação social e ambientalmente correta. Isso porque, dizem as entidades, o óleo diesel produzido pela estatal é um dos piores do mundo e contribui para piorar a qualidade de vida dos brasileiros.

O mercado está absorvendo rapidamente o conceito de responsabilidade social, querem produtos que sejam feitos sem agredir ao meio ambiente ou proveniente de empresas tenham ações sociais. Ok. Como este é um tema extremamente novo e importante creio que algumas grandes empresas não consigam por em prática o que deveria ser feito. Uma empresa gigante como a Petrobras comete deslizes. Deve corrigi-los. O caminho é longo, os passos são curtos, não dá pra voltar atrás devemos prosseguir.

A sociedade deve mobilizar-se para exigir das empresas e governos melhores condições para o meio ambiente e para si mesma. Deixar de comprar um produto pode ser um dos caminhos.



AI MEU DEUS DO CÉU ...




... foram as últimas palavras do padre-mais-sem-noção dos últimos tempos. Se ele queria entrar pro livro do Guiness talvez consiga como o padre-mais-sem-noção. Também pudera foram várias atitudes sem noção: não tinha gps apropriado, voou mesmo com uma tempestade vindo (porque estaria em cima das nuvens), chegou a uma altitude de 5.800 m, foi expulso de uma escola de vôo livre, não tinha autorização de nenhum orgão de controle de tráfego aéreo, subiu com 1000 balões com gás hélio.

Onde você acha que está o aloprado padre ??

Ele ainda conseguiu sumir totalmente. Deve ter morrido de vergonha e desapareceu ? Caiu num buraco negro ? Foi abduzido pelos ETs ? Foi parar na ilha de Lost ? Essa foi a mais cômica. Impressionante a sátira dos comediantes.

Ai meu Deus do céu ...

RENAISSANCE



Alguém pode me dizer se viram o filme Renaissance entrar em cartaz nos cinemas? Ele é impactante para ver na telona. Fato é que já está nas locadoras mais descoladas, ainda bem. Me contive em ver a história de ficção científica na telinha. O futuro não é muito distante, o ano é de 2054. O cenário é uma Paris high tech com direito a garotas de programa virtuais disponíveis na rua. Não há dia nem noite. Imensas telas de projeção repetindo a propaganda da grande corporação Avalon, telhados de vidros sobre as ruas, passarelas ligando os prédios (como imaginaram no Plano para melhorar a cidade de Paris - 1955), árvores em cima dos prédios. Tudo isso e muito mais imaginado numa animação em PB, com super efeito de fotografia parecendo negativo.

O que mais pode nos assustar ou melhorar nossa vida através da ciência ? A biogenética. Esse é o pano de fundo do filme, a cura de uma doença rara chamada progeria. O policial, que é árabe, precisa encontrar uma cientista do leste europeu sequestrada. Pensem num filme de ação e que prende atenção.






9.4.08

DENGUE PELO BRASIL



O mosquito da dengue está preocupando principalmente a população do estado do Rio de Janeiro. Os camelôs de plantão lançam novos produtos a cada momento. De acordo com a necessidade são criados os mais inusitados produtos, como a raquete para eletrocutar o famigerado mosquitinho. Aqui em Recife ainda não chegou a tal raquete, ou o Rio está consumindo tudo e/ou por aqui os dados não são tão alarmantes.
O mesmo não ocorre por todo o Nordeste. Passei por uma cidade pequena no interior do Rio Grande do Norte, chamada Parazinho, numa região semi-árida, pequeno sertão próximo do mar. Nela vimos um cartaz, pintado à mão, alarmando a população: "PROCURA-SE O INIMIGO PÚBLICO NÚMERO 1: MOSQUITO DA DENGUE! CUIDADO ELE MATA !" Com direito a um desenho singelo do bandidão.
Acabar com essa praga depende de esforços públicos como este, mas depende muito mais dos esforços pessoais. A menos de 20 Km dali, em São Bento do Norte, nosso destino para reencontrar uns amigos, casualmente em sua casa vimos um grande foco de mosquitos. A imagem era muito parecida com a que vemos na tv, se eram larvas da dengue não sabemos. Acionamos rapidamente a meninada para retirar a água empoçada da chuva. O caso é sério. O descuido é grande.
O nordeste está atento também, semana passada morreu uma pessoa de dengue hemorrágica em João Pessoa.

ATENÇÃO AOS SINTOMAS :

  • Dor de cabeça;
  • Dor nos olhos;
  • Febre alta muitas vezes (passando de 40 graus);
  • Dor nos músculos e nas juntas;
  • Manchas avermelhadas por todo o corpo;
  • Falta de apetite;
  • Fraqueza;
Em alguns casos, sangramento de gengiva e nariz, então corre para o hospital pois é a hemorrágica. Exija que seja feito o exame para constatar a dengue e começar imediatamente o tratamento, pois senão a morte pode chegar.