24.1.08

" DEUS É MAIS ! "





A expressão é tipicamente baiana: "deus é mais!". Ouvi-la aqui em Salvador reforça mais o acento religioso que esse povo lindo tem. Em Salvador você respira a cultura afro como todos sabem, mas os artistas plásticos contemporâneos não querem se restringir a esses ´rótulos`. Eles sabem onde está a fonte para beber e renovar seu axé mas ao mesmo tempo querem ir a outras fontes, provar de outras águas, muito embora as galerias do mundo dito desenvolvido continue querendo ver o afro-brasil. É o hábito do velho mundo em segmentar, tudo bem, vamos em frente.
Saindo do hotel, o catharina paraguaçu (vale a pena dar uma visitada no site)
mais com cara de pousada colonial, virando à esquerda logo dá num dos melhores acarajés da cidade: O da Regina. Em tempo, estou no bairro Rio Vermelho, onde se concentra mais dois dos melhores acarajés da cidade, O da Cira e O da Dinha. Ai vai com calma, o dendê é forte pra dendê ... Além disso o bairro é o buchicho de Salvador com vários barzinhos, restaurantes, casas de show. Espetáculo.
Incrível mesmo foi descobrir que aqui, bem aqui no Rio Vermelho, durante um grande temporal no início do século XVI, o português Diogo Álvares Correia, conhecido como Caramuru(filho do trovão), naufragou, mas foi salvo pelas areias do Rio Vermelho. Entendi então o porquê o hotel Catharina Paraguaçu está neste bairro. Pra quem não se lembra, o português caiu nas graças dos índios Tupinambá pois acreditavam que o branquelo tinha poderes mágicos, graças ao seu mosquetão. O cacique lhe concedeu sua filha, que levou o nome de batismo de Catarina Paraguaçu, que quer dizer mar grande. Mais tarde foi para a Europa onde viveu muitos anos até falecer. Ela é considerada a mãe biológica da nação brasileira, pois foi o início de nossa miscigenação.
Este rico bairro em histórias continua ... Aqui fica a Casa de Iemanjá e a colônia de pescadores. Na foto consegue ver a Casa, a colônia e a Igreja de Santana. Os festejos pra Iemanjá acontecem na praia, com procissões de barcos para levar as oferendas.
Rio Vermelho deságua em Iemanjá e em Paraguaçú ...

14.1.08

FORTE MANGUEIRENSE




Fiquei mais uma vez impressionada com os esquemas táticos do narco-tráfico e suas inconseqüências juvenis . Construíram uma fortaleza num dos pontos mais altos do complexo mangueirense! Só faltaram os canhões ! Seria óbvio esperar que a polícia não deixaria isso assim, pois tem todos os recursos tecnológicos para extrair raios-x de toda a cidade. Os policiais foram mostrar seu serviço à sociedade e o que aconteceu ?
Os bandidos incendiaram um ônibus em são cristóvão ! Terror pelo bairro ...
Bem que a ação poderia fazer parte de um marketing agressivo para chamar atenção à sua escola de samba. Ou a fortaleza ter sido levantada para abrigar as costureiras em ritimo 'frevético' para o carnaval ...
Imaginação delirante, provavelmente os traficantes não gostam de samba, são ruins da cabeça e doentes da alma.


PINDAÍBA



Lendo no blog do marciopalmeira sobre a dificuldade financeira que os sambistas mangueirenses passam e a relação com o narco-tráfico, pensei: os gloriosos poetas estão numa pindaíba, mesmo tendo sido nomeados como patrimônio cultural.
Curiosa como sou e ultra-usuária do completo Houaiss fui verificar a origem dessa expressão popular. Tinha uma vaga impressão de que é uma palavra indígena. 'Voilà', vem do tupi e quer dizer vara de pescar (pi'nda + 'ïwa). Nossos irmãos índios não são nada bobos, pois a árvore tem em média 20 metros de altura, fazendo parte da mata ciliar, ou seja pertinho do rio.
A expressão surgiu não se sabe exatamente como e existem várias explicações. Algumas expressam uma tendência a menosprezar a cultura indígena, como: "Teodoro Sampaio diz que é uma alusão à má fortuna de quem se vê reduzido à vara do anzol para viver"; ou "Silveira Bueno - o nosso indigena (este ainda tem a pachorra de se aproximar com pronome possessivo) dependia da vara de pescar para o seu sustento e quando tal instrumento não servia, não apanhava peixes, considerava-se o índio na miséria (quem considerava? esqueceram-se que índio não come somente peixe ? E esqueceram que a relação dele com a natureza é outra? Que não tem essa noção de miséria?)".
Graças ao primoroso estudioso Ney Lopes temos uma outra fonte para tal expressão que vem do quimbundo: mbinda = miséria + uaíba = feia; mbindaíba
= o branco adaptou e ficou pindaíba.
Talvez o melhor para expressão fosse 'estar na bindaíba' para não confundir com a cultura indígena. Mas vocês acham que os brancos falariam igual aos negros ?!