21.3.07

A Louca da Casa


..."Amar apaixonadamente sem ser correspondido é que nem estar num barco e enjoar: você acha que vai morrer mas nos outros só provoca risadas", disse-me certa vez o escritor Alejandro Gándara, com uma lucidez esmagadora. É mesmo:sofrimentos amorosos costumam provocar nos espectadores um sorrisinho meio gozador, meio piedoso. E, no entanto, a dor de um amor desprezado é tão aguda! É um desespero que enferma, uma desolação que esvazia. Parece curioso que os seus amigos não levem muito a sério um sofrimento que para você é tão profundo; e ainda mais curioso que você tão tampouco se comova demais quando quem sofre são seus amigos. Por que será que, quando não estamos mergulhados no martírio do desamor, damos tão pouca importância a essa desgraça? Será que no fundo da nossa consciência sabemos que a paixão amorosa é um invento, um produto da nossa imaginação, uma fantasia? E que, portanto, essa dor que nos abrasa é de alguma maneira irreal? ...A louca da casa às vezes é assim: brinca perversamente conosco. Faz-nos sentir uma dor destrutiva e autêntica diante de suas miragens." - Rosa Montero (jornalista e literária), livro A Louca da Casa

Li esse trecho lembrando de pessoas que choraram amores não correspondidos e que insistiam em voltar para quem lhes fazia sofrer. Será que além da brincadeira perversa não seria uma brincadeira masoquista? Por que as pessoas continuam vivendo as dores? Por que elas não se libertam, de uma vez por todas, desse ciclo vicioso? Parece que o não se comover das pessoas em relação ao sofrimento alheio vem da incredibilidade na incapacidade de criar novos horizontes.

2 comentários:

marcelo luna disse...

Lu, desejo vida longa aos pensamentos lúcidos e transparentes nesse novo espaço.

dacosta disse...

Obrigada Marcelo!