5.10.07

"OS SERÕES"


" Antonio Conselheiro foi um gnóstico bronco.
Veremos mais longe a exação do símile.
Paranóico indiferente, este dizer, talvez, mesmo não lhe possa ser ajustado, inteiro. A regressão ideativa que patenteou, caracterizando-lhe o temperamento vesânico, é certo, um caso notável de degenerescência intelectual, mas não o isolou - incompreendido, desequelibrado, retrógrado, rebelde - no meio em que agiu.
Ao contrário, este fortaleceu-o. Era o profeta, o emissário das alturas, transfigurado por ilapso estupendo, mas adstrito a todas as contingências humanas, passível do sofrimento e da morte, e tendo uma função exclusiva: apontar aos pecadores o caminho da salvação. ..." Os Sertões - Euclides da Cunha

Aqui estou na 8º latitude sul situando-me: geograficamente, culturalmente, socialmente, sociologicamente na cidade do Recife. No jornal leio que a peça 'Os Sertões' adaptada por José Celso na cia de teatro Oficina vem ao Recife mas não encontra espaço apropriado. Solução: construíram um enorme galpão na área desativada de armazéns portuários, no Recife antigo. A trupe chamou o galpão - de dois andares, com vigas de ferro, cenário mutante nos 4 cantos - de grande navio.
Desde a montagem do mega-espaço a peça foi um burburinho pela cidade. Afinal de contas, a fama do Zé Celso roda o universo com seu teatro escatológico, polêmico, antropofágico. Não podia deixar de assistir a encenação dos Sertões, talvez, um dos 'top-livros' mais densos de nossa literatura. Me corrijam e me acrescentem.
Nos confins do meu HD está um arquivo incompleto. Tentei lê-lo no 3º ano do 2º grau no colégio. Claro, que não consegui, havia tantas outras matérias para estudar pro vestibular. Restringi-me em saber da história como um todo.
Toda a regra tem uma exceção; as pessoas dizem: leia o livro antes de ver o filme ou peça adaptados. Neste caso, vejam a peça para depois ler o livro. Zé Celso fez uma super montagem em 5 atos. Como assim? Também me perguntei. Ele dividiu o livro em 5 partes: a terra, o homem - nascimento, o homem - transmutação, luta 1 e luta 2. Uma maratona teatral, nunca vi nada igual. Navegamos pela 'Terra', que é bem musical, muito bonito, descreve o Brasil todo. A cena de Iemanjá foi marcante nesse dia. Os atores são polivalentes. O cenário muda o tempo todo. Projeções, iluminação, figurino, tudo chama atenção. Passaram 4 horas e nem reparamos.
Ficou uma vontade de navegar novamente. Acabei vendo o Homem - transmutação. Foram 6 horas de pura antropofagia. Ele narra o livro ao mesmo tempo que vem na atualidade buscar os paralelos. A transmutação é dionisíaca, baco, eva, liliti ... só indo pra ver. Além dos atores, o público entra em cena ficando nu. Aqui tivemos mais homens do que mulheres nuas. Não sei o porquê. Como será no Rio?
Disseram que a Luta 1 foi lindo, muitos efeitos visuais. Perdi esse dia. Fui no último que foram também 6 horas. Na real poderia ter sido 4 horas e já estava muito bem finalizado. Deu até pra tirar uma pestana ...
Valeu
pela exclusividade da dramaturgia, pela crítica social, pelo despertar de ler o livro agora. Talvez possa dizer como os pernambucanos: essa é a peça de teatro de maior tempo no mundo!
Não percam! Escolham bem seus lugares ...
Merda!

No RJ : 04 a 07 de outubro e 10 a 14 de outubro - no CCACCF - Av. Barão de Tefé, 75, Saúde

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