Demorei mas encontrei essas imagens que registrei em 2006, no morro do Catumbi - Rio de Janeiro. Todo o ano é assim, uma multidão infantil aglomera-se numa velocidade mais rápida que a da luz. Só chegar em qualquer comunidade do Rio, de Recife que vem até adulto pegar os doces dos êres. Ano passado fui com Nina e Marcelo na comunidade do Alto-Zé-do-Pinho, infelizmente não registrei, mas a algazarra é a mesma. Quase você não consegue sair do carro, gritaria, gente correndo vindo de todos os cantos, olhos arregalados-não-acredito (veja o moleque acima de boné azul), alegria, sorrisos, decepção dos retardatários.
A vóvozinha acima, também do Catumbi, ganhou merecidamente o seu pacotinho pois seu nome é Damiana! Caí pra trás ...
Ontem minha sobrinha postiça, Maria Clara, ao ver os doces que seriam empacotados e distribuídos para as crianças perguntou-me sem saber como formular a questão se macumba era coisa de gente má, com cara ruim, estranha. Antes de respondê-la ela me disse que não acreditava no que falavam, pois quem dá alguma coisa não pode ser má.
O preconceito na cabeça de muita gente existe por não conhecer, ou não querer conhecer, o diferente.
Os santos gêmeos nasceram na Ásia Menor, no século IV, médicos, converteram-se ao cristianismo, cuidavam dos doentes por caridade obtendo curas espantosas. Vem daí que são os protetores dos médicos. E das crianças ?
No candomblé, Iansã e Xangô tiveram dois filhos gêmeos, orixá Ibeji, também chamados de Erês, protetores do parto duplo, das crianças. Na umbanda o sincretismo fez unir esses orixás com o seu irmão cristão mais próximo, Cosme e Damião. Hoje, certamente, está acontecendo uma das giras mais bonitas da umbanda, destinada às entidades das crianças. Quando se quer agradar uma criança o que damos ? Doces.
Enquanto isso em Salvador, hoje, é dia de caruru. Caruru é o nome do prato feito com quiabo que vai no delicioso acarajé (ai que deu água na boca), que é a comida de Xangô, mas também é o nome do banquete que se oferece aos vários orixás, no dia 27 de setembro, com um prato específico pra cada orixá.
Esse ano minha oferenda destinou-se às crianças deficientes de um orfanato e às crianças internadas no hospital do Imip.
Viva o Brasil da liberdade religiosa, viva a umbanda, viva cosme e damião!